Atenção à COP 23, que está acontecendo em Bonn, na Alemanha, deveria ser a mesma dada a grandes eventos como a Copa do Mundo

O que eu vou falar para começo de conversa aqui hoje talvez diga mais sobre mim do que sobre a mídia brasileira, mas me marcou ficar sabendo da COP 23, a Conferência do Clima que está acontecendo em Bonn, na Alemanha, apenas no dia em que ela começou, em 6 de novembro. Não descarto que posso ser eu a desinformada ou desatenta, mas, embora precise confessar que as negociações sobre o clima não estão no topo da minha lista de interesses, por outro lado me vejo como uma leitora de notícias mais assídua do que a maior parte das pessoas. Além disso, realizando algumas buscas, de fato não consegui encontrar menções à Conferência muito anteriores ao dia 6.

E porque seria importante que essas notícias ou análises mais antigas existissem? Entendo que uma parte importante do combate às mudanças climáticas está na conscientização e no comprometimento da população mundial. No caso específico das conferências e acordos globais, a pressão popular sobre governantes em todo o mundo é fundamental não só para que metas de redução de gases causadores do efeito estufa sejam cumpridas, mas também para que elas sejam inclusive ampliadas, já que um relatório recente da ONU indicou que, mesmo se integralmente cumpridos, os compromissos firmados no Acordo de Paris representam apenas um terço do que precisamos fazer para mitigar os impactos das mudanças climáticas. E, para que estejamos suficientemente informados e atentos, prontos para desempenhar este papel como cidadãos, não é suficiente que comecemos a prestar atenção às negociações no dia em que elas começam, esquecendo-as logo em seguida para voltar a pensar no assunto apenas às vésperas da próxima conferência. Então, pode ser tarde demais.

Quando vamos ter grandes eventos esportivos, como as Copas do Mundo e Olimpíadas, ou da indústria do entretenimento, como o Oscar, a mídia começa a nos preparar com grande antecedência, com cadernos especiais, notícias e análises em profusão, publicadas meses e, em alguns casos, até um ano ou mais antes do evento. Com isso, quando chega o Dia D, somos todos especialistas na escalação de times de futebol, nos meandros da produção cinematográfica e, em casos mais extremos, mesmo no até outro dia desconhecido curling, sensação dos Jogos de Inverno, tão distantes de nós, brasileiros. Desejo, para as futuras Conferências do Clima, que viverão um momento importante ao longo de 2018, que recebam os mesmos holofotes, para que cheguemos em 2020 – momento-chave para o Acordo de Paris – com um pouco mais de esperança e, sobretudo, sentimento de responsabilidade.

O que ler sobre a COP 23

Enquanto isso, recomendo que acompanhem atentamente o noticiário dessas semanas, pois até o dia 17, quando terminam os eventos da Conferência, ainda devemos ter várias oportunidades de nos informar sobre o andamento das pesquisas e ações de combate às mudanças climáticas. Para começar, indico o apanhado geral do G1 sobre o que esperar da COP 23, além de textos do Valor Econômico de apresentação da Conferência e sobre a postura do Brasil no evento – nada animadora, diga-se de passagem. Para acompanhamento e aprofundamento, o site do Observatório do Clima é sempre uma boa referência e, internacionalmente, há a própria página da Conferência.

A semana teve também a publicação de dois estudos sobre consumo de mídia que podem, em certa medida, serem relacionados à discussão que propus aqui hoje. O Instituto Reuters, junto com a Universidade de Oxford, lançou a sexta edição de seu relatório sobre o consumo de notícias nos meios digitais, e, aqui no Brasil, saiu a edição 2017 do Atlas da Notícia, produzido pelo Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) e pelo Observatório da Imprensa, em parceria com a agência Volt Data Lab. O documento da Reuters enfatiza a questão da confiança na mídia em tempos de fake news e, em texto de análise, a comunicadora Melissa Bell aponta como os veículos midiáticos deixaram de ser truth seekers (“caçadores” da verdade) para serem truth holders (donos da verdade) que impõem sobre seus públicos a avaliação sobre o que é importante saber. Para reverter essa situação, de perda de confiança na mídia, Bell sugere que os veículos busquem responder “como podemos ajudar nosso público a buscar conhecimento, em vez de simplesmente publicarmos informações”.

Talvez um caminho seja apoiar melhor leitores, ouvintes e espectadores na reflexão sobre questões essenciais à sua existência, como são as questões climáticas.

Boas leituras, bom feriado e uma ótima semana.

Versão em vídeo