É em 2018 que precisaremos de nossa melhor performance de crítica de mídia

Hoje, Mídia e Ciência encerra 2017, seu primeiro ano de existência, com esta 39a edição, 29a com versão também em vídeo. Foi um ano propício para a estreia de uma coluna de educação para as mídias que busca interações mais informadas, críticas e reflexivas com a própria mídia e, também, com o conhecimento e a prática científica.

Foi um ano dos mais difíceis para a Ciência e o conhecimento no Brasil, e no mundo. Mais do que isso, foi um ano difícil para a verdade, ou, melhor dizendo, para o compromisso com a verdade. Por isso, revisitando as colunas publicadas neste primeiro ano, não é surpresa identificarmos, em relação aos temas sobre os quais falamos, como ficaram claramente na frente, distantes de qualquer concorrência, os ataques ao conhecimento e a desvalorização das evidências. Como parte dessa estratégia, destaca-se também a tragédia dos cortes no financiamento para a Ciência e a Tecnologia, particularmente no Brasil. Outro tema recorrente – e vinculado ao primeiro, à era da pós-verdade e da “morte da expertise” – foram as mudanças climáticas, cujas consequências dramáticas se tornam cada vez mais claras (e mais próximas), mas, paradoxalmente, quase na mesma proporção em que aumentam as ameaças à nossa sobrevivência no Planeta. De outro lado, sinto que precisaria ter falado mais sobre notícias de Saúde, sobre as superbactérias e a resistência a antibióticos e sobre inteligência artificial. Ficou para 2018.

Olhando para a Ciência, tivemos várias oportunidades de aproximá-la de outras esferas da atividade humana, para tentar evidenciar suas contribuições ao entendimento do mundo em que vivemos e à qualidade da nossa vida aqui na Terra, mas também buscando enfraquecer o mito de que ela é neutra, alheia aos interesses e paixões humanas. Na mídia, continuo sentindo falta dessa abordagem, do olhar para além dos resultados e também para o processo científico. Temo que esse olhar se dê apenas pelo viés negativo, já que começam a crescer as matérias sobre denúncias de fraudes e má conduta no meio científico.

Olhando para a mídia, a ênfase esteve na questão da pauta, no fomento à reflexão sobre por que alguns assuntos viram destaque e outros são silenciados, e à atenção ao recorte da realidade que é feito e ao papel das palavras na configuração das narrativas.

Educação para a (s) mídia (s)

Educação para as mídias é, em grande medida, isso: evidenciar como as narrativas midiáticas não são um reflexo da realidade; como o processo de construção de um texto jornalístico – escrito, falado e/ou imagético – envolve inúmeras escolhas; e oferecer subsídios à reflexão sobre como essas escolhas se relacionam com o contexto social, econômico e cultural em que vivemos.

Que a mídia seja assim não é necessariamente ruim, uma falha ou um mal do qual precisamos nos proteger. Mas não podemos prescindir dessa possibilidade de atravessar uma camada de opacidade que dificulta esse olhar e essa relação crítica com a mídia, de conseguirmos acessar diferentes e diversas fontes de informação e, a partir delas e de tudo o mais que faz de nós o que somos, construir a nossa própria narrativa.

Se 2017 foi difícil, foi também apenas um ensaio, um prelúdio para 2018. Cada vez mais ouvimos falar do papel inédito que a Internet – e, com ela, as fake news e a manipulação – terão nas eleições presidenciais brasileiras. Negar a mídia não nos ajudará. O que precisamos é olhar atenta e criticamente para as características dos diferentes lugares onde a notícia é produzida; para as nuances, as entrelinhas do texto jornalístico e, também, para o modo como nós e aqueles que são diferentes de nós leem, veem, ouvem, compartilham, recomendam, participam e recriam as narrativas midiáticas. Não existe uma régua, uma regra, que nos permitam diferenciar fácil ou automaticamente fato de não fato, verdade de mentira… Não é disso que se trata. Não é tão simples assim, mas espero que tenha sido, e possa continuar sendo, um exercício rico e, por que não, prazeroso!

Boas festas, e espero que continuem por aqui no ano que vem!

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