O Prêmio Nobel foi criado, em 1901, a partir da vontade e da fortuna do industrial sueco Alfred Nobel, morto alguns anos antes. Diz a lenda que a criação do Prêmio foi uma tentativa de Nobel de ser lembrado por algo mais que a invenção da dinamite, origem da sua fortuna e causa de tanta destruição.

Se há alguma verdade nessa história, o plano foi bem sucedido. Ao longo dos últimos dias, todas as editorias de Ciência do mundo, além das redes sociais e outros espaços físicos e virtuais, foram ocupadas pelo anúncio dos prêmios Nobel de Medicina, Física, Química e Literatura e, no momento em que escrevo esta edição de Mídia e Ciência, pela expectativa em relação ao Prêmio de Economia e, sobretudo, ao Nobel da Paz. Não há dúvidas de que, aos laureados com o Nobel, apenas adjetivos edificantes e admiráveis são associados!

Não por acaso, o frisson associado à premiação, no Brasil, começou um pouco antes do anúncio do primeiro resultado, ainda na sexta-feira, dia 29, quando Michel Temer recebeu carta assinada por 23 cientistas já agraciados com o Nobel, denunciando como os cortes no orçamento de Ciência e Tecnologia “comprometem seriamente o futuro do Brasil” e precisam ser revistos “antes que seja tarde demais”. Nós já falamos de agenda-setting aqui na coluna antes, em julho deste ano, tratando justamente da mobilização da comunidade científica brasileira para colocar em evidência na arena pública a relevância dos investimentos em C&T. Aparentemente, sem sucesso neste caso, já que, no dia 3 de outubro, o mesmo Estadão que noticiou em primeira mão a “carta laureada” anunciou a liberação de apenas 20% dos recursos necessários para a Ciência e Tecnologia brasileiras chegarem ao fim de 2017 – e as perspectivas para 2018 são ainda piores…

Oras, talvez esteja faltando ganharmos um Prêmio Nobel! Já falamos aqui também que a campanha midiática em defesa dos recursos para a C&T precisa se empenhar mais em mostrar exemplos de como a pesquisa científica contribui para o desenvolvimento do Brasil. Porém, neste momento extremo, talvez precisemos mais ainda de um Nobel para chamar de nosso e do qual possamos nos orgulhar como nos orgulhamos dos nossos títulos esportivos, belezas naturais e celebridades artísticas.

Oportunidades, no entanto, não faltaram, e talvez precisemos falar mais também de Cesar Lattes, Mario Schenberg, Carlos Chagas, Maurício Rocha e Silva, Sérgio Henrique Ferreira e Otto Gottlieb – para quem não sabe, todos eles cientistas brasileiros que poderiam ter recebido o Nobel pelo trabalho que desenvolveram. Mesmo nesta edição, tínhamos um brasileiro entre os concorrentes, Cesar Victora, médico gaúcho que, no início do ano, foi reconhecido com o Prêmio Gairdner, um dos principais na área da Saúde, por seus estudos sobre a importância do aleitamento materno na prevenção da mortalidade infantil.

Mas as apostas para o Prêmio Nobel estão longe de serem uma ciência exata, como ilustra a matéria da Folha de São Paulo que, dois dias antes do início das premiações, reuniu palpites sobre os favoritos. De acerto tivemos apenas o Prêmio para as ondas gravitacionais na Física que, convenhamos, não era um palpite muito difícil…

Para saber mais sobre os premiados deste ano e seus trabalhos, minha dica principal é o próprio site do Nobel e suas redes sociais, que têm se saído muito bem em termos de comunicação pública da Ciência – apesar de, por enquanto, ficar só na Língua Inglesa. Mas também tivemos bons materiais em Português, como os textos do Estadão e da Pesquisa Fapesp sobre o ciclo circadiano (tema do Nobel de Medicina); novamente do Estadão, o da Folha de São Paulo e o divertido texto da Superinteressante para as ondas gravitacionais; e, para entender a criomicroscopia, que rendeu o Nobel de Química, temos novamente a Folha, dentre outros. Estes são só alguns exemplos: o jornalismo científico brasileiro se saiu muito bem nesta cobertura!

Para concluir, eu recomendo texto publicado na The New Yorker, sobre a mensagem enviada pela escolha dos vencedores na categoria de Medicina e Fisiologia: segundo o autor, uma mensagem de valorização da pesquisa básica, em um momento em que ela, especialmente, sofre muitos ataques nos Estados Unidos – e no mundo. Oportuno para pensarmos, inclusive, em desejar um Prêmio Nobel da Paz outorgado à Ciência, que precisa mesmo concentrar energias em contribuir para a paz neste mundo assustador em que estamos vivendo hoje. Esta mensagem, de que esta Ciência precisa ser estimulada, também seria importante para inspirar o público em defesa da Ciência, assim como os cientistas na reflexão sobre a sua prática!