Ovos, embriões e ossos de pterossauros encontrados por pesquisadores brasileiros e chineses viram celebridades no Brasil e no mundo

Há uma semana, acho que não visualizaria rapidamente um réptil gigante e alado se ouvisse falar de um pterossauro… Agora, sou bastante íntima desses bichões; sei que não eram dinossauros – embora tenham convivido e compartilhado também o momento da extinção –, que não deixaram descendentes na história da evolução, que provavelmente viviam em bandos e voltavam sempre ao mesmo lugar para botarem seus ovos, e que seus filhotes talvez fossem mais dependentes dos pais do que se pensava.

Tudo isso porque a descoberta, na China, de 215 ovos fossilizados de uma espécie de pterossauro – 16 deles com embriões – foi destaque em praticamente todos os principais veículos de comunicação no Brasil e no mundo, a partir da publicação do estudo na revista Science, em 1o de dezembro.

Confesso que, inicialmente, fiquei bastante incomodada com o verdadeiro espetáculo. A descoberta deve ser importante; afinal, são 215 ovos, os primeiros embriões em três dimensões (ou seja, não totalmente esmagados por milhões de anos de intempéries), e saiu na Science… Mas será que merecia mesmo tanto alarde, especialmente quando pensamos que, para que algo ganhe esse destaque, várias outras coisas deixaram de ser noticiadas?

A primeira justificativa para toda a excitação – especialmente dos paleontólogos, como registraram a GloboNews e o The Washington Post (este último no texto que me pareceu o melhor entre os vários que li sobre o assunto) – é a raridade da descoberta, já que, até agora, menos de uma dezena de ovos de pterossauros já haviam sido encontrados e, além disso, como já registrado, temos os primeiros embriões 3D. A configuração do local onde os ovos foram encontrados também permite várias inferências sobre o comportamento reprodutivo dos pterossauros e sobre o seu desenvolvimento. Lendo as reportagens, também descobri que os pterossauros foram os primeiros vertebrados a voar ativamente, além dos maiores animais a jamais terem voado.

Mas, além da particularidade desses bichos, extintos quase sem deixar vestígios, e da imensa e prazerosa aventura do conhecimento, eu sentia que deveria haver algo mais por trás de tanta animação, que não estava aparecendo nas matérias (apesar de algumas terem, inclusive, um quadrinho intitulado justamente “Por que é importante”)… Apenas na notícia publicada no site americano The Verge achei uma pista de que minha inquietação não era completamente despropositada, quando li que saber como os pterossauros viviam faz crescer nosso entendimento do que a vida é capaz em nosso planeta – ou foi, no passado.

Pterossauros brasileiros

E, no Brasil, temos um motivo a mais para comemorar os resultados: a participação, central, de pesquisadores brasileiros, dentre eles Alexander Kellner, do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que descobri ser um dos maiores especialistas em pterossauros em todo o mundo, tendo participado da caracterização de mais de 20 espécies! Ao longo deste ano, falei várias vezes aqui em Mídia e Ciência da necessidade de buscarmos concretizar, em tempos de tantos ataques à Ciência, porque insistimos em falar em investimentos, em oposição a gastos. Este é um daqueles momentos que justificam essa fala e, nesse ponto, O Globo e o Jornal Nacional acertaram em cheio ao lembrarem do potencial inexplorado da Bacia do Araripe, no Ceará, onde fósseis de pterossauros já foram encontrados e, com os investimentos necessários, muitas capas de Science e outros reconhecimentos tão importantes quanto este certamente viriam!

Boas leituras, boa semana e até a próxima edição de Mídia e Ciência, a última de 2017!